Muitos artigos publicados em revistas científicas de grande prestígio trazem impacto e mudam a história da medicina e a conduta de médicos no mundo inteiro. Mas apesar do rigoroso processo editorial que contribui para o enorme prestígio destas publicações, vez ou outra erros graves são cometidos, seja na recusa da publicação de achados científicos valiosos, como na publicação de estudos fraudulentos. Quando reconhecem o erro, as revistas publicam uma retratação notificando a comunidade científica sobre o erro e removem o artigo de seus arquivos. Porém, às vezes, o impacto da publicação inicial é tão grande que a credibilidade nos seus resultados persiste por anos.

Apesar do rigoroso processo editorial que contribui para o enorme prestígio das grandes revistas científicas, vez ou outra erros graves são cometidos

Apesar do rigoroso processo editorial que contribui para o enorme prestígio das grandes revistas científicas, vez ou outra erros graves são cometidos

Nós selecionamos aqui 5 erros notórios cometidos por grandes publicações científicas. Estes erros só se tornaram claros com o tempo e com o aparecimento de novas evidências, mas servem para uma reflexão sobre a importância de analisar cuidadosamente novos achados médicos antes de sua aplicação no cuidado com o paciente.

1)    Em 2004 e 2005, a revista Science publicou dois artigo de autoria de Woo Suk Hwang no qual o autor relatou sucesso com clonagem de embriões humanos. O achado recebeu repercussão mundial e Hwang chegou a ser citado em 2004 como uma das pessoas mais importantes do mundo na lista anual da revista Time. A desconfiança de que métodos pouco éticos haviam sido empregados para obtenção dos ovos voltou a atenção da comunidade científica para os métodos do estudo, revelando diversos problemas e culminando com a confissão de Hwang sobre a fabricação das informações.

2)    Um dos erros mais antigos e famosos foi cometido pela revista Nature em 1937 quando, alegando sobrecarga de publicações, recusou um artigo escrito por Hans Krebs e colaboradores sobre a primeira descrição do ciclo do ácido cítrico, ou ciclo de Krebs. Vinte anos mais tarde, Krebs recebeu o Prêmio Nobel pela descoberta. Logo após sua morte, um editor da revista publicou um texto no qual chamou a rejeição ao artigo de “erro egrégio”.

3)    A revista The Lancet publicou em 1998 um artigo de autoria de Andrew Wakefield que associava a vacina do sarampo, caxumba e rubéola (MMR) ao autismo. Mais tarde, novas informações sobre a maneira como o estudo foi conduzido lançaram dúvida sobre a sua credibilidade. Uma investigação pelo General Medical Council, entidade que vigia a comunidade médica na Inglaterra constatou que o autor agiu sem ética ao sujeitar as crianças envolvidas no estudo a procedimentos médicos invasivos desnecessários e a pagar pela coleta de sangue de algumas crianças durante o aniversário do seu filho para o estudo. Richard Horton, editor da revista, publicou em 2010 um artigo justificando o recolhimento da publicação no qual repudiou a conduta do autor como “terrível”. Uma investigação posterior pelo British Medical Journal mostrou que os dados que serviram de base para as conclusões do estudo haviam sido alterados e sugeriu que Wakefield deveria ser julgado criminalmente por ter provocado dano prolongado à saúde pública.

4)    Em 2005, a revista The Lancet publicou um artigo de autoria de Jon Sudbø que mostrava uma associação entre inibidores não-seletivos da COX-2 e uma redução do câncer oral em fumantes. Um médico da mesma instituição a qual  Sudbø praticava suspeitou da veracidade das informações dos pacientes ao perceber que o banco de dados do qual as informações dos pacientes haviam sido retiradas nunca havia sido examinado. Ao olhar mais de perto estas informações, percebeu que 25% dos 908 pacientes incluídos no estudo tinham a mesma data de aniversário. Sudbø admitiu que os pacientes eram fictícios e confessou também que já havia anteriormente criado material fictício para publicação no New England Journal of Medicine e no Journal of Clinical Oncology.

5)    Em 1956, Rosalyn Yalow e Sol Berson enviaram para publicação na revista Journal of Clinical Investigation um artigo sobre os achados iniciais do que viria a ser o radioimunoensaio, que foi rejeitado pelo periódico. Quatro anos depois, diante de uma plateia no 52nd Annual Meeting of the American Society for Clinical Investigation, um dos eventos mais prestigiados da comunidade científica, Yalow mostrou prova material desta técnica que permitiria pela primeira vez na medicina medir com precisão e especificidade a quantidade de determinado hormônio no sangue. No mesmo ano, a revista reconheceu o erro e publicou o artigo que é hoje um dos mais citados da revista e que também rendeu aos pesquisadores o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina.

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